Rebeca, mulher autista e mãe, conta como o diagnóstico transformou sua vida

Neste 18 de junho, data simbólica criada por autistas, a reportagem do DiárioRP conversa com Rebeca, mulher autista, mãe de quatro filhos, que compartilha sua jornada de autoconhecimento e aceitação.

“Com o diagnóstico, eu me entendi e me aceitei”, diz Rebeca, autista adulta. Foto: DiárioRP

O Dia do Orgulho Autista é celebrado neste 18 de junho e, em 2025, a data completa 20 anos desde que foi comemorada pela primeira vez por um grupo de pessoas com Síndrome de Asperger nos Estados Unidos. Desde então, o movimento se espalhou pelo mundo, propondo uma mudança de olhar: o autismo não como algo a ser “curado”, mas como parte da diversidade humana, com suas singularidades, forças e desafios.

Para marcar a data, o DiárioRP conversou com Rebeca Fullmann, 42 anos, uma mulher autista, casada e mãe de quatro crianças. Diagnosticada há cerca de oito anos, ela compartilhou como foi crescer e viver sem saber que era autista — e como o diagnóstico mudou sua vida.

“Eu comecei a trabalhar cedo, com 17 pra 18 anos. Logo tive algumas crises e, com o tempo, o pessoal do banco percebeu. Fui obrigada a fazer acompanhamento psicológico, tanto com a equipe do banco quanto fora. Foi lá que me ensinaram muita coisa: sobre comportamentos, como lidar com pessoas… até a tentar olhar nos olhos. Eu não consigo olhar nos olhos das pessoas, mas aprendi técnicas pra parecer que estou olhando.”

Mesmo com profissionais apontando sinais claros de autismo, Rebeca conta que, na época, o diagnóstico não avançava porque se dizia que “autistas não tinham empatia”. Ela, por outro lado, sempre foi muito sensível — especialmente com crianças.

“Meu hiperfoco sempre foi criança. Já fiz maluquices como pegar avião pra outro estado só pra ajudar uma família. Esse é meu grande hiperfoco, sempre foi.”

Anos depois, durante um atendimento hospitalar em uma gestação, uma psiquiatra identificou indícios mais consistentes. A partir daí, Rebeca passou a ser acompanhada por uma equipe médica: neurologista, psiquiatra, psicólogo, fonoaudiólogo. O processo durou cerca de três anos até o diagnóstico definitivo.

“O diagnóstico foi libertador. Me ajudou a parar de me cobrar tanto, a entender minhas dores, minhas crises, meus comportamentos. Me fez aceitar quem eu sou. Eu cresci em uma época em que quem fugia do comportamento esperado era levado pra hospitais psiquiátricos. Eu vi gente de camisa de força. Sempre tive medo de sair do ‘normal’. Hoje sei que era só o meu jeito autista de ser.”

Rebeca conta que o diagnóstico também ajudou a educar melhor seus filhos. Ela consegue explicar seus comportamentos, crises e sensibilidades, o que tornou a convivência familiar mais acolhedora.

“Hoje eles entendem quando eu choro sem motivo, quando preciso de rotina, quando estou em crise. Sigo melhor o dia se tiver rotina. Se sair, tudo atrapalha.”

Apesar de ainda não participar de projetos sociais, Rebeca diz estar se adaptando à nova cidade e buscando espaços onde possa se conectar com outras pessoas. Ela continua em acompanhamento psiquiátrico e psicológico, mesmo com dificuldades de manter uma regularidade.

“Tenho outras comorbidades, o que complica ainda mais. Mas gosto de ser mãe. Minha maior alegria é ver meus filhos crescerem. Se eu pudesse, teria mais.”

Para Rebeca, o Orgulho Autista é um movimento que se opõe à visão do autismo como uma condição a ser eliminada. Em vez disso, destaca a aceitação, o respeito e o reconhecimento das diferenças. A proposta é mostrar que pessoas autistas têm capacidades únicas, mas também enfrentam desafios que exigem acolhimento e compreensão — não exclusão.

“Neste 18 de junho, mais do que comemorar, é um momento de dar visibilidade a histórias reais, como a minha, e reforçar a importância da neurodiversidade como parte da riqueza humana”, conclui Rebeca.