De voluntária a mãe: a história de Erica Schwartz e a adoção de Mateus

Erica e Mateus se conheceram durante trabalho voluntário em abrigo; ‘para mim é muito importante ter uma mãe que me ama e que é um exemplo de pessoa’

“Ele já era meu filho”, conta mãe solo que adotou o filho aos 11 anos. Foto: Léu Britto/ Agência Mural

Erica Schwartz, 46, guardava a certeza de que seria mãe um dia, só não sabia como. Foi aí que, em 2008, conheceu Mateus Francisco Schwartz, então com 9 anos. Ele morava em um dos abrigos onde fazia trabalho voluntário como psicóloga. A reportagem é da jornalista Jacqueline Maria da Silva, Agência Mural.

Mateus era irmão mais velho de duas meninas e haviam sido destituídos de sua família. Daquele primeiro contato nasceu um sentimento que nem ela mesma se deu conta.

“Meus amigos e amigas e a equipe técnica já tinham percebido o quanto eu estava conectada a ele [Mateus], só eu que não”.

Foi então que a coordenadora do centro de acolhida perguntou se a voluntária não queria adotá-lo. “Eu estava divorciada, solteira… pensei: ‘imagina se juiz que daria guarda para mim?”.

Meses depois, a coordenadora voltou a tocar no assunto e sugeriu que Erica ficasse com Mateus nos finais de semana para se conhecerem melhor. Ela topou e solicitou a autorização para o juiz.

“Naquele primeiro final de semana, eu já sabia que queria adotá-lo, já não queria mais deixá-lo lá. Ele já era o meu filho. Então, entrei com o pedido de adoção homoparental, detalha.

Agora era hora de saber se o menino sentia o mesmo. Erica o levou em um restaurante e falou que queria ter a oportunidade de adotá-lo. “Expliquei que não era casada, que sou homossexual e que se conhecesse alguma mulher e casasse essa seria a constituição da nossa família. Ele disse que gostava de mim, que aceitava a adoção e que queria ter essa oportunidade” conta com alegria.

O processo foi longo e a adoção só foi concluída quando ele tinha 11 anos. De lá pra cá, a conexão e o amor entre os dois só cresceu. “Para mim é muito importante ter uma mãe que me ama e que é um exemplo de pessoa que já tem um conhecimento maior da vida”, acrescenta Mateus, hoje com 25 anos e atuando como operador de caixa.

Os desafios de uma mãe solo

“O que mais me marcou foi ter um quarto só para mim, porque eu sempre dividia com as outras crianças [no abrigo]”, lembra Mateus, com bom humor, sobre o pós adoção.

Contudo, ele conta que a adaptação foi difícil no início. O menino que residia desde os 5 anos em centros de acolhida se viu diante das mudanças da adolescência misturadas à nova condição familiar.

Mateus conta que tinha certeza de que seria adotado, mas tinha expectativa de que seria com as outras duas irmãs mais novas. Ambas acabaram sendo adotadas por uma família italiana.

“Eu chorava bastante de saudade, não sabia se elas estavam bem, como que estava sendo a vida delas, se elas estavam se adaptando ou não”. Há dois anos, Erica retomou contato com a família pelas redes sociais e levou Mateus para rever as irmãs no país europeu.

Mateus passou por acompanhamento psicológico e reforço escolar pela defasagem de aprendizado. Erica também ganhou uma nova rotina: começou a ir em reuniões escolares e checar o calendário de vacinas para adolescentes, o que estava fora da sua vida até então.

“Uma preocupação era que pudesse dar uma boa condição de vida para ele. Eu era autônoma e voltei para o mundo corporativo para ter uma renda fixa, estabilidade e benefícios. Parece que quando a maternidade bate, você sente que tem que estar ali para acolher a criança e estar bem para cuidar da outra pessoa”.

Por isso, Erica alerta que não se deve romantizar a adoção, nem entender a adoção de crianças mais velhas como algo diferente das outras vias de maternidade.

“Muitas mães que gestam, dão à luz e não tem uma conexão inicial grande com o bebê. Para elas é uma construção. A adoção é a mesma coisa, é uma construção”.
Erica Schwartz