Roberto Botacin, o ribeirãopirense que se candidatou a papa em 1978

Além de ter concorrido ao principal posto da Igreja Católica, Roberto Bottacin, protagonizou outros feitos como por exemplo, solicitar a aposentadora da mula Menina.

Roberto Bottacin também protagonizou outras passagens polêmicas na Estância. Foto: Banco de Dados.

Foi durante uma pesquisa para o seu 11º livro – O Nazismo Sobrevive ao III Reich– que Roberto Botaccin Moreira (17/11/1935 a 4/5/2002) viu que, mesmo não sendo um cardeal, poderia se candidatar a papa. O ano era 1978, e o cidadão mais irrequieto da história de Ribeirão Pires se colocou como postulante ao principal cargo na hierarquia da Igreja Católica. O Brasil vivia o regime militar e sua intenção era mostrar que, naquele momento, mais fácil seria um civil ser eleito pontífice do que presidente da República. A reportagem é do jornalista Nilton Valentim do Diário do Grande ABC.

Esta foi a mais famosa das muitas polêmicas que Bottacin se envolveu ao longo de seus 66 anos. Houve outras, e todas elas ambientadas na cidade em que morou por quase toda a sua vida.

Bottacin, que foi escritor, historiador, contador, político e jogador de futebol, viu a possibilidade de chefiar a Igreja ao ler o artigo 89 do Código Canônico que versava sobre a posse do Sumo Pontífice do Estado do Vaticano. “Se o eleito não estiver revestido de caráter episcopal, ou for leigo, a homenagem ser-lhe-á prestada e o anúncio ao povo dar-se-á somente após sua Ordenação Sacerdotal Episcopal”.

Ele interpretou daí que qualquer católico leigo estava apto a ser papa. Buscou mais informações no Direito Canônico e viu que o postulante deveria ser batizado e crismado, solteiro e maior de idade. Mesmo se declarando ateu, Bottacin preenchia os requisitos: havia passado pelos ritos (batismo e crisma), tinha 41 anos e estava em ‘estado de celibato’, conforme atestado emitido pelo Cartório de Registro Civil da cidade.

“Foi uma afronta à Igreja. Ele era ateu”, relembra a filha mais nova de Bottacin, a empresária Karina Magalhães Miron Moreira, 43 anos, que hoje mora em Santa Catarina.

“Eu e minha irmã (Carolina Magalhães Miron Moreira, 45, que vive em Dubai, nos Emirados Árabes) crescemos com o meu pai e a minha avó paterna. Meu pai era uma pessoa bem difícil de se relacionar, sempre com muitas ideias, mas, na época, éramos muito novas para conseguir entender a linha de raciocínio dele. Mas era incrivelmente inteligente, e minha principal lembrança era ele na sua máquina a escrever, textos e textos. Sinto falta do barulho dele datilografando”, recorda-se Karina.

A candidatura, protocolada na Nunciatura Apostólica de Roma, em Brasília, no dia 6 de abril de 1978, não avançou, mas ganhou destaque nacional e internacional. Rendeu reportagens no Jornal Nacional e Fantástico, ambos da TV Globo, e até na de Londres, na Inglaterra.

MULA MENINA

Bottacin também protagonizou outras passagens polêmicas. Segundo o historiador Arnaldo Boaventura Neto, ele “estudava diversos tipos de legislações afim de encontrar os chamados ‘absurdos legais’ onde poderia poderia agir para criticar determinado problema”.

Foi assim que, também em 1978, solicitou a aposentadoria da mula Menina, como funcionária pública municipal, pois durante 30 anos ela puxou a carrocinha da coleta de lixo em Ribeirão Pires. O pedido foi atendido pelo então prefeito Luiz Carlos Grecco (Processo nº 1635/78, de 6 de junho de 1978). O animal ganhou abrigo e pensão alimentícia até sua morte, em 10 de abril de 1987.

Menina fez ‘dobrada’ com Bottacin na eleição de 1986. Ele postulante a deputado estadual pelo PMC (Partido Municipalista Comunitário) e ela, a federal. A candidatura da mula não foi aceita pela Justiça.

Como jogador de futebol, Bottacin se destacou como goleiro Juventus, atuou no Atlético-MG e Palmeiras, além do Germânia, da Guiana Inglesa, onde teria conhecido a atriz Audrey Hepburn. Como escritor, deixou cerca de 20 livros