Entre o medo e a incerteza: a rotina de uma mãe após a mudança no transporte escolar

O sol ainda não havia nascido quando encontramos Rebeca, organizando a rotina dos filhos. A madrugada se despedia devagar, enquanto a luz amarelada da cozinha revelava o cansaço em seu rosto. Mãe de quatro crianças, três deles com TDAH, ela sabia que aquele dia seria mais difícil que os anteriores.

Na dia 31.01, foi informada de que seus filhos mais velhos, de 12 e 13 anos, não teriam mais direito ao transporte escolar. Os gêmeos de 7 anos continuariam sendo atendidos, mas os mais velhos agora precisariam se virar. “Moro em uma chácara, e do ponto de ônibus até minha casa o trajeto é perigoso. Minha filha de 13 anos precisa sair muito cedo para ir à escola e meu filho de 12 anos, que tem TDAH, não sabe sequer atravessar a rua sozinho”, explicou, enquanto preparava o café com gestos rápidos e automáticos.

A manhã seguiu com a correria de sempre, mas agora acompanhada pela preocupação. A menina de 13 anos colocou a mochila e saiu antes das seis da manhã para pegar o transporte público. O céu ainda estava meio escuro à acompanhava até o ponto de ônibus mais próximo. O silêncio do mato à sua volta era interrompido apenas pelo farfalhar das árvores e, vez ou outra, pelos faróis distantes de algum carro.

Já o filho de 12 anos ainda tentava entender a nova rotina. Ansioso, inquieto, sem a segurança do transporte escolar, dependia da mãe para levá-lo ao ponto. A cada rua atravessada, Rebeca segurava firme sua mão. “Ele não tem noção do perigo. Sempre esteve no ônibus da escola, sempre foi assim. Agora, como eu faço?”, questionou, sem esperar resposta.

Além do medo, há também o peso do custo. A mudança pegou os pais de surpresa e sem tempo para planejamento. Até que o cartão de transporte fique pronto, a família terá que desembolsar R$ 24,00 por dia – um valor que, para quem tem mais de um filho na escola, rapidamente se torna insustentável. “Já temos despesas com material escolar e agora essa surpresa. Não sabemos como iremos arcar com isso”, desabafa.

O trajeto do ponto de ônibus até a escola não é o único problema. Muitas crianças precisarão atravessar a Rodovia Índio Tibiriçá, um trecho conhecido pelos frequentes acidentes. “Elas terão que cruzar a rodovia várias vezes ao dia. Isso coloca suas vidas em risco”, alerta a mãe.

Quando os gêmeos de 7 anos embarcaram no ônibus da escola, Rebeca respirou fundo. Sabia que a jornada ainda não havia terminado. O dia seria longo, como todos os outros, mas agora com uma nova preocupação pesando em seus ombros.

E, ao longe, o ônibus levava os mais novos em segurança – um direito que, até pouco tempo atrás, ela acreditava ser garantido para todos os seus filhos.