Coletiva Pontos de Fiandeiras apresenta espetáculos em Ribeirão Pires

A Coletiva Pontos de Fiandeiras estreou no mês de janeiro o espetáculo “Caixa Casa Mundo – histórias re-veladas ou sobre como vencer os monstros”, no Sindicato dos Bancários do ABC, em Santo André. A temporada passará por diferentes cidades do ABC, território que sedia o trabalho da coletiva. O projeto, realizado com apoio do PROAC, irá circular de forma gratuita em institutos, escolas e teatros em Santo André, Mauá, Diadema, Ribeirão Pires e São Bernardo do Campo, terminando no CEU Sapopemba, em São Paulo. Na Estância, acontecerá duas apresentações.

O espetáculo cênico fala de forma poética sobre as violações aos direitos da infância e da juventude, refletindo sobre caminhos e redes de apoio que possibilitem denúncias e proteção. Dividido em duas partes complementares e que dialogam entre si, a linguagem escolhida foi o universo do Teatro de Formas Animadas, com o teatro lambe-lambe, como prólogo, e a encenação narrativa. Este jogo teatral proposto convida o público a vivenciar o espetáculo de maneira singular, criando uma dramaturgia própria e provocando a imaginar outras realidades para as histórias contadas. 

O Teatro Lambe-lambe ocupa um espaço cênico formado por um palco em miniatura confinado em uma caixa. Nesse espaço são apresentadas peças de curta duração por meio da manipulação de bonecos, objetos ou sombras para um espectador por vez, criando uma atmosfera intimista, misteriosa ou secreta. O gênero criado em 1989 pelas bonequeiras nordestinas Denise de Santos e Ismine Lima,  foi inspirado nos fotógrafos lambe-lambe, e inaugurado com o espetáculo “A dança do parto”, em uma busca para que a cena do parto pudesse ser apresentada de de forma delicada como um segredo a ser resguardado. 

Para a dramaturga e integrante da Coletiva Pontos de Fiandeiras Camila Shunyata, a escolha da linguagem visava dar novos sentidos, com poesia e esperança, à aridez das violências cotidianas sofridas por crianças e jovens. “O espetáculo propõe sensibilizar o olhar e escuta, que figuram as verdadeiras chaves para abrirmos as caixas-casas-mundos e assim re-velar, no sentido de denunciar e alertar crianças e adultos para situações que as expõem à violações de todos os tipos. Além de anunciar a possibilidade de transformação das trajetórias desses personagens-crianças e a vitória sobre “os monstros” como a ressignificação do sofrimento que as permite serem vistas e ouvidas, entoando o seu canto em um mundo mais justo e pacífico”. 

São seis espetáculos com duração de até 3 minutos em que cada um revela a miniaturização dos conflitos de personagens-crianças dentro de seus universos-caixas. Há nessas apresentações o compartilhamento de um segredo entre o ator manipulador e o espectador e a necessidade de um esforço ao olhar pela caixa, compreender situações que, embora recorrentes, passam despercebidas. Como a infância indígena que é desrespeitada em suas crenças e território; a preta, favelada, que não tem acesso à história de seus ancestrais; a criança que trabalha, não frequenta a escola e tem fome; as em situação de rua; as abusadas, exploradas sexualmente, negligenciadas e silenciadas. 

Tais conflitos são redimensionados e ampliados na segunda parte do espetáculo com as cenas narrativas que extrapolam o universo das caixas, e vão utilizar recursos como bonecos, sombras e objetos, ainda permanecendo dentro da pesquisa do Teatro de Formas Animadas.

A tríade Caixa Casa Mundo tem a figura mítica e ancestral de pássaros como fio condutor das narrativas que acompanham cada uma das jornadas das infâncias apresentadas. A figura simbolizada em muitas culturas como o mensageiro que se comunica entre o céu e a terra ganha o papel de auxiliar na revelação das crueldades, assumindo a função de multiplicadores das histórias que se mantêm veladas ou esquecidas.

A Coletiva Pontos de Fiandeiras foi instigada a compreender e possibilitar um debate sobre a infância, buscando no processo de estudo, pesquisa e criação abrir espaços para a escuta das crianças e jovens, para traduzir através de imagens as violências às quais muitas delas estão submetidas. Vivian Darini, diretora geral e integrante da coletiva, conta que é preciso tratar com delicadeza assuntos difíceis, mas não deixar de expô-los como feridas que necessitam de tratamentos.  “Nosso objetivo maior é que tais violências sejam reconhecidas e denunciadas, a fim de que se estabeleça um pacto social de cuidados e transformação, que garanta os direitos da infância e da juventude, refletindo sobre o paradoxo de uma sociedade que dá aos jovens e crianças a responsabilidade de “um mundo melhor”, mas que os silencia e violenta”, completa.

O processo de construção do espetáculo se iniciou em 2019, com o agravamento da vulnerabilidade das crianças e jovens, como reflexo do sucateamento de políticas públicas, e depois, aprofundada com a pandemia de Covid-19 no início de 2020. A pesquisa se deu a partir da obra A História das Crianças no Brasil, da historiadora Mary Del Priori, que trata a concepção da infância como cidadã de direitos como algo recente na história e, o quanto elas sofreram e ainda sofrem violações ao longo dos tempos, da colonização a contemporaneidade, mesmo depois do estabelecimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, da Declaração Universal dos Direitos das Crianças em 1959,  da Constituição Federal do Brasil em 1988 e do Estatuto das Crianças e Adolescentes em  1990. Além das leituras, o grupo se debruçou em um processo de estudo e compartilhamento que chamou de Escambarias Feministas, com imersões, reflexões e exercícios práticos conduzidos por profissionais artistas, ao longo de 2022. 

SOBRE A COLETIVA: 

Formada desde 2011 em Santo André, investiga a memória coletiva, a artesania teatral com enfoque às perspectivas feministas. Mantém-se desenvolvendo pesquisas e criações teatrais, que dialogam sobre a participação das mulheres na sociedade a partir de uma perspectiva que busca honrar todas as vozes.  

Ao longo dos anos, realizou espetáculos, contações de histórias, rodas de conversa, oficinas e ações culturais, levando a um público diverso e intergeracional, um olhar e escuta para narrativas, pessoais e coletivas, que valorizam a memória e a história das que lutaram e ainda lutam para possibilitar o exercício da cidadania e dos direitos humanos. 

Em 2016 estreou o primeiro espetáculo infantil, Sementeira, criado em colaboração com a Teatral Rizoma, que situava a criança como sujeito social e histórico, que se desenvolve em seus contextos através da capacidade de imaginar e recriar a realidade no brincar. 

Calendário:

Sexta | 10 de Fevereiro de 2023

E.E. CASEMIRO DA ROCHA – Rua Camilo Ledo Vazquez, 20 – Centro Ouro Fino, Ribeirão Pires.

19h30 – Espetáculo “Caixa Casa Mundo  – Histórias Reveladas ou sobre como  vencer monstros” Duração: 1h10.

Domingo | 26  de Fevereiro de 2023

LEBEM – ESPAÇO COMUNITÁRIO  – Av. Benjamim Baptista Cerezoli, 580 – Pilar Velho, Ribeirão Pires

14h– Teatro Lambe-lambe do Projeto Caixa Casa Mundo. Duração: 1h30 

16 h – Espetáculo “Caixa Casa Mundo  – Histórias Reveladas ou sobre como  vencer monstros”. Duração: 1h10.

SERVIÇO: 

Caixa Casa Mundo 

Prólogo – Teatro Lambe Lambe 

Indicação etária: a partir de 10 anos

Os atores ficarão 1h30 minutos à disposição para apresentação do Teatro Lambe Lambe. 

Espetáculo Teatral: Caixa Casa Mundo: histórias re-veladas ou sobre como vencer os monstros da Coletiva Pontos de Fiandeiras.