Entrevista com Luís Alberto de Abreu: Cultura Popular e Erudita

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Quando vamos ao cinema, ao teatro ou ouvimos uma música – seja um samba ou uma música de Beethoven, por exemplo – estamos apreciando arte, consumindo cultura.  Mas você já parou para se perguntar quais são os pontos principais que diferenciam a cultura popular da erudita?

Basicamente, a arte ou cultura popular é aquela mais ligada à tradição, aos costumes de um povo de determinada região, ou uma determinada época. As classes menos favorecidas da sociedade participam ativamente da criação cultural, expressando através da música, teatro e literatura, experiências vivenciadas no cotidiano. A cultura popular traduz, então, o espírito de uma nação. No Brasil o carnaval, o forró, as comidinhas tradicionais e as literaturas regionais,são um exemplo típico do espírito do povo brasileiro.

A arte erudita nasce em oposição a essa ideia. Para ela, as experiências particulares dos artistas devem ser aprimoradas e transformadas, deixando para trás a ideia de exclusividade. Seria, portanto, uma linguagem universal. Nasce a partir daí o conceito de “alta cultura”, mais ligada à pesquisa – o domínio dos conhecimentos de história, por exemplo. Um saber ligado à sofisticação e ao progresso.

O que acontece é que durante muito tempo a arte erudita foi considerada superior à arte popular. Ainda hoje existe uma grande confusão a respeito do assunto, que já gerou, inclusive, uma série de preconceitos, um afastamento de pessoas de classes diferentes. Mas essa quebra não seria o contrário do que a arte propõe? Será mesmo que a arte erudita é superior a popular, ou vice e versa?

Uma frase dita em entrevista por Luís Alberto de Abreu, um dos nossos maiores autores de teatro, cinema e televisão, me chamou a atenção: “A arte popular é extremamente erudita, assim como a boa arte erudita também popular”. Isso me instigou a trazer a questão à tona, principalmente nesse período em que estamos vivendo, e o convidei para um bate-papo muito interessante e enriquecedor sobre o assunto.  Convido a todos a repensarem questões como diferenças e preconceitos. Afinal, a verdadeira beleza da arte está união, não na segregação.

Sobre Luís de Abreu 

Considerado um dos principais dramaturgos da América Latina, Luís Alberto de Abreu já escreveu mais de 40 peças teatrais, além de roteiros para cinema e televisão, como Lila Rapper (1997), com Jean Claude-Bernardet, e os premiados Kenoma (1998), Narradores de Javé (2000) e Andar às Vozes (2005), em parceria com Eliane Caffé. Na televisão assina minisséries como Hoje é Dia de Maria e A Pedra do Reino, da Rede Globo, onde atualmente é um dos colaboradores do núcleo de dramaturgia da novela Velho Chico. Suas obras e estudos sobre narrativa têm influenciado dramaturgos e diversos grupos de teatro contemporâneo brasileiros. Abreu também é um colecionador de prêmios na área teatral, recebidos ao longo da carreira, entre eles quatro prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, Prêmio Mambembe do Instituto Nacional de Artes Cênicas, Prêmio Apetesp, Prêmio Panamco e Prêmio Shell.