Desmatamento, problemas de mobilidade, ausência de inclusão e impactos em nascentes colocam em xeque o discurso oficial de alinhamento à Agenda 2030.

Foto: Diário de Ribeirão Pires
Embora o município utilize o lema “Ribeirão para o Futuro” e adote formalmente a Agenda 2030 da ONU, práticas da administração municipal são alvo de críticas de moradores e ambientalistas, que apontam possíveis desacordos com diretrizes internacionais de sustentabilidade, igualdade de gênero e proteção ambiental.
A Agenda 2030, pactuada em 2015 por 193 países — incluindo o Brasil —, estabelece 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas que orientam políticas públicas até 2030. O compromisso propõe promover dignidade humana, proteção ambiental, desenvolvimento econômico e responsabilidade com as próximas gerações.
Em Ribeirão Pires, o então vereador e presidente da Câmara, Guto Volpi, implementou a adesão à Agenda 2030 no Legislativo. Já como prefeito, ampliou o programa para o Executivo municipal, adotando o slogan “Ribeirão para o Futuro”. Entretanto, alguns princípios da Agenda não vêm sendo cumpridos na prática.
ODS 5 – Igualdade de gênero: baixa presença feminina no primeiro escalão
O ODS 5 prevê igualdade de gênero e empoderamento de mulheres. Em Ribeirão Pires, dos 18 secretários da atual gestão, apenas três são mulheres. Secretárias exoneradas teriam sido substituídas por homens, o que intensifica o debate sobre representatividade feminina em cargos de liderança na gestão.
ODS 6 – Água e saneamento: falta de infraestrutura em bairros
O ODS 6 prevê acesso universal à água potável e saneamento básico. Em bairros como o Jardim Caçula, moradores relatam que ainda enfrentam ausência de rede de esgoto adequada. A falta de infraestrutura nessa área é considerada um dos principais desafios locais. Parte das soluções depende de tratativas com o Governo do Estado e com a própria Sabesp, o que não vem acontecendo.
Objetivos 11 e 16 tratam da acessibilidade e da necessidade de manter uma cidade inclusiva para todos.
No entanto, a Prefeitura e vários prédios públicos não possuem acessibilidade. O próprio gabinete do prefeito só tem escadas, e pessoas cadeirantes não têm acesso ao espaço. Em diversos pontos da cidade, a falta de estrutura é evidente. Pais atípicos também travaram uma batalha para que seus filhos tenham acesso à educação inclusiva.
ODS 13, 14 e 15 – Ações climáticas e proteção ambiental são alvos das principais críticas
As críticas mais frequentes relacionadas à Agenda 2030 dizem respeito aos ODS 13 (Ação Climática), 14 (Vida na Água) e 15 (Vida Terrestre). As autorizações municipais para cortes de árvores e intervenções em áreas sensíveis, incluindo nascentes, lagos e trechos de Mata Atlântica, estão em desacordo com os objetivos da Agenda.
Um dos casos mais recentes é o da Rua Hugo Winter, no Jardim Pastoril, onde vídeos mostram máquinas atuando em uma área com nascente — situação que gerou forte repercussão nas redes sociais. Àrvores centenárias foram removidas e áreas verdes acabaram degradadas, o que pode contribuir para processos de desequilíbrio climático.
Na ODS 15, que trata de reverter a degradação da terra e deter a perda da biodiversidade, o governo Guto Volpi faz exatamente o contrário ao autorizar desmatamentos de forma irregular e sem a devida autorização dos órgãos competentes, como a CETESB. Essas ações contribuem diretamente para a perda da biodiversidade e para o avanço da degradação ambiental.
Em notas anteriores sobre temas ambientais, a Prefeitura afirma que todas as intervenções possuem licenciamento ambiental e seguem normas técnicas exigidas pelos órgãos competentes, o que foi negado pelos órgãos.
Críticas sobre transparência e eficácia da Agenda 2030 na cidade
Embora a adoção da Agenda 2030 seja positiva, ela estaria sendo utilizada mais como slogan institucional do que como diretriz de políticas públicas. Faltam transparência, participação social e relatórios públicos sobre o avanço — ou estagnação — das metas estabelecidas.
Especialistas em desenvolvimento sustentável reforçam que municípios comprometidos com a Agenda precisam apresentar indicadores atualizados, planos intersetoriais e monitoramento contínuo, algo que, segundo os críticos, ainda não está claramente disponível em Ribeirão Pires.
Em entrevista recente à imprensa regional, o prefeito Guto Volpi afirmou que pretende “entregar uma cidade mais bonita para a próxima gestão”. No entanto, o compromisso também deveria considerar uma cidade ambientalmente equilibrada e verdadeiramente sustentável para as próximas gerações.


