Entrevista com Marcos Rogério de Lima, o “Pezão”

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Marcos Rogério de Lima, o “Pezão”, é um dos melhores peso-pesados do mundo atualmente. O lutador de kickboxing começou sua carreira em Ribeirão Pires e contou à esta coluna como foi o início, como foi participar do TUF (The Ultimate Fighting), sobre os objetivos e muitas outras coisas. Confira abaixo como foi a entrevista.

 

Quando você decidiu virar um lutador profissional?

Pezão: Eu fazia judô e basquete no clube e eu até pretendia seguir carreira. Mas eu era muito novo e, infelizmente por conta de uma amizades, eu acabei largando tudo. Eu tinha 16 ou 17 anos e percebi que estava fazendo muita besteira, estava me envolvendo com gente da pesada. Foi aí que eu percebi que precisava sair da rua, que eu precisava ocupar meu tempo. Primeiro, eu fui para a igreja. Depois, eu percebi que precisava voltar a praticar esportes. Então, eu comecei a fazer boxe com o Professor Evaldo, depois fui para o kickboxing e foi aí que eu comecei a ter êxito na minha carreira como amador. Por alguns problemas da cidade, de estrutura, de apoio, eu acabei deixando Ribeirão Pires e fui para São Paulo. Recebi uma proposta do meu antigo empresário e meu mestre, Paulo Zorello, e eu passei a me dedicar somente aos treinos de kickboxing, onde eu conquistei vários títulos e depois migrei para o MMA (Mixed Martial Arts).

Quais foram as maiores dificuldades do início da carreira?

Pezão: O início de qualquer carreira é muito difícil, porque ninguém começa com prestígio, as pessoas não acreditavam tanto no nosso trabalho. Eu treinava, morava e lutava em Ribeirão Pires. Alguns atletas até já tinham bastante patrocínio e bastante apoio, mas a gente era na base da raça e da coragem, até tínhamos apoio político, mas era pouco. Eu lembro que eu e minha equipe chegávamos para pedir patrocínio e ofereciam R$ 20 ou R$ 30, e isso desanimava um pouco, mas eu sempre acreditei que fosse dar certo, tudo isso me ajudou a crescer muito. Quando eu fui para São Paulo, eu percebi que eu era um mundo totalmente diferente. As pessoas investiam mais, uma estrutura maior e foi quando eu comecei a ter êxito na minha carreira.

Como foi ser aprovado no TUF e depois ser selecionado para lutar no UFC?

Pezão: O TUF é um grande sonho, é a melhor porta de entrada para o UFC (Ultimate Fighting Championship). Muitos lutadores que estão fora e muitos que já estão no Ultimate queriam que a porta de entrada fosse o programa. Porque você já entra com certa notoriedade. Quando eu entrei no programa, eu fiquei muito feliz, foi muito bom.  A grande incógnita para mim, era a parte de entrevistas, a parte psicológica, porque além de ter talento, você precisa ser um bom produto para a televisão poder vender. Depois ter chegado nas semifinais, ter lutado no UFC, foi muito bom. Era um sonho, que virou objetivo e hoje é a minha realidade.

Quais são os esportistas em que você mais se espelha?

Pezão: Um cara que eu sempre assisti muito foi o Ernesto Hoost (lutador holandês), é um cara que eu não lutou no UFC, era do kickboxing. A gente tem um estilo de luta parecido e eu sempre acompanhei bastante ele. Mas para mim, o maior exemplo de atleta e para muitos brasileiros é o Ayrton Senna. Ele é a pessoa em que mais me espelho. O Ayrton Senna e o Michael Jordan são os meus exemplos.

 

Você vinha de uma derrota para Nikita Krylov, o que mudou na sua preparação para a luta contra Clint Hester?

Pezão: Ninguém entra em uma luta para perder, mas minha derrota para o Nikita Krylov foi uma coisa muito difícil. Eu estava muito bem, estava treinando forte, infelizmente eu acabei perdendo a luta. Eu tive vários problemas, eu vario meu camp (época de preparação para as lutas) entre o Brasil e os Estados Unidos e eu começava os meus treinos lá.  Depois eu voltava para o Brasil e daqui e eu partia para o local da luta. Mas nesse confronto foi diferente. Eu comecei meus treinos nos EUA, voltei para cá, mas acabei tendo um problema de fraude no consulado e eu não consegui pegar o meu visto de trabalho. Era para ser a minha primeira luta em Hollywood. Por conta disso, remarcaram a luta para outro evento. Então, eu não consegui voltar para os EUA para treinar, por vários problemas. Roubaram meu carro e tive alguns problemas financeiros e eu não consegui fazer os meus treinos nos Estados Unidos, acabei treinando somente no Brasil. Eu estava bem, mas não consegui render na luta e infelizmente eu perdi. Mas para a luta contra o Clint Hester, eu comecei camp por aqui e depois fui para os EUA e de lá eu fui para a luta e foi isso o que eu mudei no meu ritmo de treinos. Ao invés de voltar para o Brasil, eu decidi terminar meus treinos nos Estados Unidos e isso foi algo muito produtivo.

Após a última vitória, quais são seus planos no UFC? Acha que mais algumas vitórias podem te colocar como postulante ao cinturão?

Pezão: Hoje eu sou o 16º da categoria peso-pesado do UFC e quero entrar no Top10. Acho que mais um vitória eu consigo. Eu tenho um ótimo relacionamento com o UFC e eles gostam muito de mim. O Dana White sempre posta coisas sobre mim e tudo isso me motiva. Com certeza eu vou ser um desafiante ao título e vou conseguir trazer o cinturão para Ribeirão um dia.

Quais são seus objetivos e sonhos?

Pezão: Eu tenho vários objetivos. Hoje, eu estou dentro do UFC, mas eu quero entrar no Top10 da categoria peso-pesado, já estou entre os Top20, mas quero chegar a ser um top contender. Quero conseguir trazer o cinturão para Ribeirão Pires, para o Brasil. Manter o título é uma coisa muito difícil, o esporte evolui muito. O que o Anderson Silva fez é muito difícil de você fazer hoje, por conta do nível em que o esporte atingiu. Mas eu quero muito conquistar o cinturão e defender meu título, esse é meu maior objetivo. Meu maior sonho é viver feliz, viver em paz, conseguir sustentar as minhas filhas com o meu trabalho que é a luta.

Um recado para os lutadores que estão começando a carreira

Pezão: Para todos os lutadores que estão começando o que eu posso falar é que se você tem um sonho acredite e lute por ele. Se você olhar a história de grandes ídolos nacionais e internacionais como o Senna e o Jordan, você vê que eles nunca foram os melhores, mas trabalharam muito para conquistar o topo, para serem os melhores. Então, que vocês tenham força para treinar e para trabalhar porque vocês vão conquistar o que querem.