Por Juzz Ravasio*
Como educadora física, muitos me perguntam: “posso correr descalço?”. Aliás, não perguntam, afirmam: “estou correndo descalço, tudo bem?”. A resposta: “não, não está tudo bem!”.
A ideia, em si, é boa. De fato, essa prática é mais eficiente em alguns aspectos, mas o problema não é a técnica, são as pessoas. Leia o artigo até o final para evitar confusões e mal entendidos:
Correr descalço é a forma mais primitiva de praticar essa atividade, afinal, nossos pés foram feitos para isso. Correr era questão de sobrevivência.
Ao correr descalço, o pé aterrissa no solo com a parte da frente (antepé), tornando o impacto ao tocar o chão mais suave. Isso acontece porque, na aterrissagem com o antepé, os músculos da panturrilha se contraem mais, amortecendo melhor o impacto.
O tamanho do passo ao correr descalço também é menor e, assim, torna-se mais fácil para o joelho e o quadril vencerem a força da gravidade e manterem o corpo em pé – por conta da diminuição dos braços de alavanca da força gravitacional sobre as articulações.
O contato direto da sola do pé com o chão estimula receptores sensoriais dessa região, fornecendo mais informações para o cérebro sobre a posição do corpo, o que melhora o controle do equilíbrio e do movimento. Além disso, a musculatura do pé é mais estimulada em relação à corrida com calçado, melhorando a sustentação e função dos arcos do pé com treinamento.
Com o tênis, a aterrissagem do pé no solo acontece com o calcanhar (retropé), e gera um pico de impacto brusco no corpo. Quanto maior e mais brusco for esse impacto, maiores são as chances de lesão, como por exemplo, fraturas por estresse. Os amortecedores dos tênis não são tão eficientes como os amortecedores naturais do corpo, e a presença deles – associada ao formato dos tênis – inibe esse padrão de pisada descalça, que suaviza o impacto.
Estudos nessa área ainda estão sendo feitos, mas, até agora, nenhum comprovou qual modalidade é melhor. Apenas podemos agir com bom senso.
Como correr descalço exige um movimento com que não estamos acostumados, pois, na maioria do tempo, andamos com algum tipo de calçado, a musculatura envolvida nessa pratica não é devidamente treinada ou preparada, ou seja: pode-se evitar lesões de joelhos e quadris, mas, em compensação, pode-se gerar lesões nos ossos dos pés, lesões na musculatura da panturrilha, tendinite no tendão de Aquiles, micoses, bicho geográfico, infecções nas unhas e solas dos pés, rachaduras, etc.
Quando disse que o problema não é a prática e, sim, as pessoas, quis dizer que grande parte da população procura exercícios que prometem muitos benefícios apenas, mas não avaliam a outra face da moeda. Então, cuidado!
Qualquer mudança nas práticas naturalmente tecnológicas de nossas atividades para a prática “primitiva” deve ser estudada com atenção, com ajuda de quem entende do assunto, e, principalmente, deve ser feita aos poucos, para o corpo se acostumar!
Procure sempre um Educador Físico, Fisioterapeuta ou Nutricionista!
* Educadora Física (CREF nº 065511-G/SP) especialista em Personal Training e Fisiologia do Exercício pela FEFISA. Juntou-se à equipe do Diário para trazer informações sobre saúde e condicionamento físico.